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Henrique Meirelles assume conselho da holding do JBS

Após um ano de quarentena, ex-presidente do BC começa hoje a definir estratégia global do grupo que controla o frigorífico

Por David Friedlander
Atualização:

Nem a disputa pela Prefeitura de São Paulo, nem a volta ao mercado financeiro. Depois de um ano de quarentena, o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles assume hoje a presidência do conselho de administração da J&F, holding de empresas que controla o frigorífico JBS, maior processador de carnes do mundo. "Tive várias ofertas para voltar ao mercado financeiro, mas achei mais interessante partir para o setor produtivo", disse Meirelles. 66 anos. "Esse grupo está crescendo muito, está se diversificando e representa uma experiência desafiadora para mim".Dono de um patrimônio pessoal estimado em mais de R$ 100 milhões, Meirelles foi presidente mundial do banco americano BankBoston, em 2002 entrou na política e elegeu-se deputado federal pelo PSDB como o candidato mais votado de Goiás e comandou o BC nos oito anos de governo Lula - tornando-se o presidente que mais tempo ficou no cargo na história da instituição.A partir de hoje, ele começa a montar o conselho de administração da holding da família Batista, que atualmente tem apenas um conselho consultivo. A tarefa de Meirelles é trabalhar na estratégia global do grupo. Uma possibilidade, no futuro, é abrir o capital da empresa.Com faturamento estimado em mais de R$ 60 bilhões no ano passado, cerca de 145 mil funcionários e negócios em 22 países, o grupo aposta na profissionalização como uma resposta ao mercado - que vê com restrições uma administração tão marcadamente familiar num grupo que está se esparramando por tantos setores da economia.O detalhe é que tanto Meirelles quanto os Batista começaram a vida em Anápolis, no interior de Goiás, e ganharam projeção internacional. "Que coincidência, não? Mas só viemos a nos conhecer em São Paulo", diz.Convites. Meirelles conta que ao longo de seu ano de quarentena avaliou várias propostas. "Tive convites para ser sócio de fundos de investimentos brasileiros e estrangeiros, para comandar bancos de investimento."Também teve convites para voltar à política: foi cogitado para disputar a prefeitura de São Paulo pelo PSD de Gilberto Kassab, que também aventou seu nome para uma eventual vaga no ministério da presidente Dilma Rousseff. "A carreira política, por enquanto, fica suspensa", diz.Na nova função, além de definir as estratégias do grupo, Meirelles vai cuidar da governança corporativa e das relações com o mercado. "Temos duas empresas listadas em bolsa: o JBS, no Brasil, e a Pilgrim's, nos Estados Unidos. A governança, para o grupo, é um aspecto de muita importância", diz Meirelles.Diversificação. Joesley Batista, um dos três irmãos que comandam a holding que começou com um açougue em Anápolis, continua na função de presidente executivo da J&F. Ele passou a replicar na holding da família o agressivo processo de expansão por meio da aquisição de concorrentes - que transformou o frigorífico no maior do mundo.Do ano passado para cá, os Batista deram a largada na Eldorado, fábrica de celulose em construção em Três Lagoas (MS); reforçaram a Flora, empresa de cosméticos, com a compra da divisão de higiene e beleza do grupo Bertin; e o Banco JBS comprou o Matone e passou e mudou o nome para Banco Original. O carro-chefe do grupo, o frigorífico JBS, cresceu com imenso apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financiou e se tornou o maior sócio dos Batista no frigorífico, e foi muito criticado por isso.Um pouco dessa filosofia também está sendo replicada nos outros negócios da J&F. O BNDES financia metade da construção da Eldorado, que tem entre seus sócios minoritários os fundos de pensão Petros (dos funcionários da Petrobrás e Funcef (Caixa Econômica Federal). O esforço agora é para mudar a percepção que o mercado tem do grupo e mostrar que os Batista estão preocupados em buscar na praça profissionais tarimbados. Antes do ex-presidente do BC, os Batista contrataram outro executivo de nome, José Carlos Grubisich, que fez uma longa carreira no grupo Odebrecht, e agora vai comandar a fábrica de papel Eldorado.

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