Produtividade: o antídoto para o baixo crescimento

Especialistas concordam no diagnóstico de que melhorar a produtividade é crucial para a retomada do crescimento do PIB, mas desafios são muitos

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Por Karla Spotorno
3 min de leitura
Comércio exterior brasileiro étrês vezes menor que o potencial, considerando o porte do País. Na foto, Porto de Santos Foto: JOSE PATRICIO/ESTADÃO

O antídoto para o baixo crescimento do Brasil é simples e óbvio, na visão de vários especialistas. O País precisa melhorar a produtividade. Não é mais possível crescer pela inclusão das pessoas no mercado de trabalho. É preciso ganhar eficiência e produzir mais, dizem consultores e pesquisadores.

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Um diagnóstico tão evidente para a letargia econômica não significa que seja simples administrá-la. Pelo contrário. A solução para o brasileiro tornar-se mais produtivo é tão vasta e generalizada quanto os motivos que levam ao problema. "São vários fatores que levam a isso", afirma o coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, Naércio Menezes Filho. "É difícil dizer qual (de tantos motivos) é o principal", diz a diretora no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fernanda de Negri. A complexidade da baixa produtividade no Brasil é o tema de reportagens especiais do Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, na segunda-feira, quando se comemorou o Dia Nacional da Indústria.

O fato é que a produtividade brasileira cresce lentamente, segundo estudo do Boston Consulting Group, e está entre as mais baixas do mundo, segundo o Conference Board. No setor industrial, especificamente, o indicador neste ano retrocedeu ao nível de cinco anos atrás, segundo metodologia dos economistas do Banco Fator. De forma geral, a produtividade brasileira equivale a 17,2% da registrada nos Estados Unidos, como mostra pesquisa de 2013 do Conference Board. Em outras palavras, o brasileiro produz cinco vezes menos que o americano médio.

O primeiro motivo para tamanha ineficiência produtiva é a insuficiência do investimento em capital de produção, especialmente em tecnologia e inovação, na avaliação de Fernanda, coorganizadora do livro "Produtividade no Brasil - Desempenho e Determinantes", lançado pelo Ipea e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) no ano passado. A falta de concorrência explica em parte a inapetência do empresário brasileiro em investir, segundo Fernanda e Menezes. "O empresário se acomoda porque não tem um competidor comendo o mercado dele", diz Fernanda. "O excesso de proteção e de favores do governo leva a essa acomodação do empresário", diz o professor do Insper.

Os dois especialistas se unem ao consultor-sênior do Banco Mundial, Otaviano Canuto, que, no início deste ano, publicou artigo sobre a "curiosa história do Brasil fechado para o comércio". No artigo, Canuto destaca que a corrente de comércio (soma de importações e exportações) é três vezes menor que o porte de nosso País impõe. Em janeiro, representava 27,6% do PIB brasileiro. Está longe do considerado ideal (85%) e também da média (55%) das seis maiores economias globais. Como afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, em sua posse, o Brasil é o "sétimo PIB mundial e apenas o 22º País em termos de exportação". "Temos uma participação de apenas 1,2% no volume total de exportações no mundo e 0,7%, se considerarmos os bens manufaturados", afirmou Monteiro.

Mas a ideia de abrir a economia brasileira para aumentar a concorrência é mais polêmica do que avaliada como eficaz. O gerente de pesquisa e competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, concorda que aumentar a competição é saudável. Mas argumenta que uma concorrência repentina muito maior "pode matar a indústria aqui dentro". Em muitos casos, o custo de produção no exterior é mais baixo em razão da assimetria nas regulações trabalhista, previdenciária e ambiental do Brasil e de outros países. Ninguém precisa visitar um curtume em Bangladesh, como fez a equipe do documentário "Marcas da Água", para entender essa assimetria. Considerando essas diferenças, Fonseca pondera que é muito difícil saber o nível de concorrência que o empresariado brasileiro suportaria sem perder competitividade.

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Menezes, do Insper, defende uma abertura gradual. O ideal, diz o professor, seria liberar, num primeiro momento, a importação de bens de capital e insumos. "Por si só, isso já aumenta a produtividade, como mostram algumas pesquisas", diz o professor, citando estudos como o que realizou com o presidente do Insper, Marcos Lisboa, e a economista Adriana Schor. Depois de alguns anos, o governo facilitaria a importação de bens finais. "Deve ser uma abertura programada porque senão quebra todo mundo", diz. 

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